Deputados ligados à Igreja Mundial têm mandatos cassados por “abuso de poder religioso” - Por Tiago Chagas



Um deputado estadual e outro federal, ambos ligados à Igreja Mundial do Poder de Deus, tiveram seus mandatos cassados pelo Tribunal Regional Eleitoral (TRE) de Minas Gerais por “abuso de poder religioso”.

O missionário Márcio Santiago (PTB), sobrinho do apóstolo Valdemiro Santiago, foi eleito em 2014 com 76.551 votos. A ação na Justiça Eleitoral foi movida por um colega de partido, o ex-jogador Marques, que obteve 39.027 votos.

Marques ficou como primeiro suplente do partido na Assembleia Legislativa de Minas Gerais, e resolveu mover a ação contra o missionário porque ele teria usado a estrutura da Igreja Mundial do Poder de Deus para obter votos.

De acordo com o ex-jogador do Corinthians e Atlético-MG, Santiago teria participado de um evento da Igreja Mundial do Poder de Deus em Belo Horizonte (MG) às vésperas da eleição. Na mesma ação, o deputado federal Franklin Roberto de Lima Souza (do PTdoB) também teve seu mandato cassado, pois também participou do culto e subiu ao palco a convite do apóstolo Valdemiro.

Segundo informações do Uol, o evento reuniu 25 mil fiéis, contou com shows e transporte gratuito, tudo às custas da Igreja Mundial do Poder de Deus, que também bancou a divulgação, com anúncios em ônibus, redes sociais e no site da denominação.

Segundo os advogados de Marques, houve um “atrelamento de pedido de votos a crenças e práticas religiosas”, o que induziu o público a votar no missionário Márcio Santiago, tornando a disputa desigual.

Os magistrados responsáveis pelo julgamento disseram, na sentença, que “existem estudos recentes acerca de uma nova figura de abuso no direito eleitoral denominada de abuso de poder religioso”, e que os candidatos haviam se valido desse artifício.

“É inegável que os investigados Marcio Santiago e Franklin Souza foram os beneficiários do abuso econômico levado a efeito pelo apóstolo Valdemiro Santiago, na medida em que esse líder religioso que é, conclamou os fiéis a votarem nos candidatos de sua predileção, que se encontravam ao seu lado”, diz trecho da decisão.

Como ainda cabe recurso, os dois deputados cassados ainda podem recorrer ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE). O missionário Márcio Santiago negou que tenha cometido abusos e anunciou que recorrerá: 

“Apesar de respeitar a Justiça, considero um desrespeito aos meus eleitores a decisão de cassar o mandato que me confiaram”, disse em comunicado. O missionário acrescentou que compareceu ao culto como “um dos fiéis”, e que não foi lá pedir votos: 

“Não se tratava de um evento político. E, sim, de uma celebração religiosa. Não há como desconsiderar que muitos fiéis, pelo fato de me verem como um líder espiritual, podem ter manifestado individualmente sua opção política por mim”, afirmou, antes de se descrever como vítima de conspiração: 

“O juízo de valor que se faz acerca da minha presença neste evento ganha contornos discriminatórios, estigmatizantes e inaceitáveis em um estado democrático de direito”.





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