Festa para São Jorge reúne milhares de fiéis em Quintino, no Rio de Janeiro - Por Janaína Carvalho e Lilian Quaino


Tradicional igreja na Zona Norte fica lotada com fiéis do santo guerreiro. Segundo padre, cerca de 150 mil pessoas são esperadas.

A Igreja Matriz de São Jorge, na Rua Clarimundo de Melo, em Quintino, na Zona Norte, iniciou na madrugada desta quinta-feira (23/04) as celebrações do dia do santo guerreiro. Segundo o padre Dirceu Rigo, pelo menos 150 mil fiéis são esperados para pedir proteção e agradecer pelas graças recebidas.

O padre diz que a igreja está em festa desde domingo (19/04), com os fiéis antecipando as homenagens ao santo. Desde quarta-feira (22/04), o movimento já era grande. De meia em meia hora, o padre abençoava objetos trazidos pelos fiéis.

A programação desta quinta começou às 3h30 com a apresentação da peça: “São Jorge, o general mártir”, com o grupo de teatro "Filhos de Jorge". São 35 jovens da paróquia que contam a vida do santo guerreiro. Às 5h, teve a alvorada com 21 tiros para saudar o soldado São Jorge, o toque do clarinete da alvorada, o badalar do sino e a queima de fogos de artifício.

Logo em seguida começou a primeira missa. A partir das 7h, as missas serão de hora e hora. A missa das 10h foi celebrada pelo cardeal arcebispo do Rio de Janeiro, Dom Orani Tempesta.

"Desejo que todas as pessoas que estão participando dessas celebrações hoje tenham São Jorge como exemplo e tenha também confiança em tempos melhores. Tem alguns lugares que têm predileção por determinados santos. São Jorge é o santo guerreiro, que vence os dragões e o carioca também é assim, por isso acho que se sente amparado por ele", afirmou Dom Orani. O arcebispo também celebrará a missa das 15h em Santa Cruz e à noite no Centro do Rio de Janeiro.

A procissão pelas ruas do bairro de Quintino começa às 16h, e dura cerca de duas horas. Às 18h tem a última missa e nova apresentação do grupo teatral.

O padre Dirceu diz que em 2014, segundo cálculos da polícia, 200 mil pessoas participaram da festa. “A participação da comunidade é muito grande, assim como a participação e o apoio da prefeitura e do estado. Isso é um grande incentivo e nos anima muito. Desde domingo já contamos com apoio de estrutura e segurança por parte da prefeitura e do estado”, disse o padre.

Para ele, o carioca tem muita fé em São Jorge, pois se identifica com a coragem que o jovem soldado teve para derrotar o dragão. “O dragão hoje não é um bicho, o dragão que temos hoje na frente das nossas portas, das nossas casas, da nossa igreja é tudo o que quer destruir nossa vida. São Jorge destruiu o dragão unido a Cristo, e o povo também tem essa força unido a Cristo com fé para derrotar esse dragão que quer destruir nossa vida”, analisou.

O aposentado Carlos Alberto Nunes Saroldi, de 59 anos, levou uma vela de 1,5 metro para acender para o santo guerreiro durante as comemorações. De acordo com ele, a homenagem será feita já que teve pedidos realizados no ano passado e conseguiu uma ajuda financeira importante.

"Quero agradecer a ele esse ano. Em 2014 acompanhei a procissão pela primeira vez e fui atendido. Saiu o dinheirinho que eu tanto esperava", afirmou o devoto Carlos Alberto Saroldi.

Fiéis passam mal

Muitas pessoas passaram mal durante a Alvorada de São Jorge em Quintino. Desde a madrugada, milhares de pessoas se concentravam em frente à igreja para assistir a primeira missa em homenagem ao santo guerreiro.

Devota do santo há mais de 30 anos, a idosa Rita Clara da Silva, de 83 anos, fez questão de ir à igreja agradecer. Ela acabou passando mal, logo depois das cornetas que anunciaram a Alvorada, e precisou ser retirada do meio da multidão por voluntários que trabalhavam na igreja.

"Venho todo ano, mas esse ano cheguei mais tarde e acabei ficando no meio da multidão. Meu filho é afilhado de São Jorge. Estou aqui hoje para pedir paz e saúde para os meus filhos e netos", garantiu Rita, que ano que vem pretende chegar mais cedo para não enfrentar tumulto.

Programação no Centro do Rio

No Centro da cidade, outro ponto de devoção a São Jorge que tradicionalmente reúne milhares de fiéis, é a Igreja São Gonçalo Garcia e São Jorge, na Praça da República.

O padre Wagner Toledo foi por 16 anos responsável pela igreja, está há quatro anos à frente da Paróquia de Santa Rita, também no Centro. Mas ainda comanda a festa de São Jorge. Em 2014, segundo contou, foram 170 mil pessoas presentes às missas, segundo cálculos da Polícia Militar.

Assim como em Quintino, desde domingo (19/04) a igreja está lotada, com os fiéis antecipando as celebrações. Nesta quinta, a festa começa com a alvorada, às 5h, e, das 8h às 16h, haverá missas de hora em hora do lado de fora da igreja, que é pequena para a multidão de fiéis.

O padre lembra que essas missas têm intenções próprias, o que significa que têm temas sugeridos pelos fiéis, em geral, sobre as atribulações da vida cotidiana como missas em intenção dos desempregados ou dos doentes.

Às 17h, a missa é celebrada dentro da igreja para os militares, São Jorge é o padroeiro dos militares. Às 20h, o cardeal arcebispo do Rio, Dom Orani Tempesta, devoto de São Jorge, segundo o padre Wagner Toledo, celebra a missa de encerramento. Para o padre Wagner, a devoção do carioca pelo santo guerreiro vem muito da identificação.

“O carioca se identifica com a perseverança de São Jorge, não desiste, não desanima, acredita num dia melhor. A gente enfrenta tantos dragões no dia a dia, a violência, a falta de acesso à educação, à saúde. E a gente não pode se derrotar, a gente luta por que acredita na pessoa humana, a gente se identifica com São Jorge pela coragem e pela força de ir em frente e não ser derrotado pelo mal. Nesta semana refletimos muito sobre o tema esperança para levar a frente a vida”, disse o padre.

A igreja de São Jorge na esquina da Praça da República com Rua da Alfândega, no Centro do Rio de Janeiro, também estava lotada na manhã desta quinta. A devota Maria do Socorro, de 55 anos, esperou cerca de três horas e meia na fila para conseguir entrar no local. "Vale a pena o sacrifício para agradecer todas as graças concedidas por São Jorge, que são muitas", afirmou.

O professor de jiu-jitsu Marcos Paulo de Freitas, de 31 anos, trouxe uma vela maior que ele para agradecer um pedido atendido. "Estava fora do Brasil e queria muito voltar para os braços da minha família. Estava em Dubai, que tem uma religião muito diferente, aí, além da saudade, tinha também a relutância espiritual", contou o professor que além de agradecer, veio fazer um novo pedido ao santo guerreiro.

GM-Rio de plantão

A Guarda Municipal (GM-Rio) montou um esquema especial de patrulhamento com o efetivo total de 523 agentes - divididos em turnos, para as festividades de São Jorge nas igrejas de Quintino e da Praça da República.

Na Igreja Matriz de São Jorge, na Rua Clarimundo de Melo, em Quintino,  a Guarda atuará com 328 agentes, divididos em turnos.  Já para as festividades que acontecem na Igreja de São Jorge do Centro, na Praça da República, a GM-Rio contará com 195 agentes também divididos em turnos.

Festa na quadra

E também tem festa para o santo fora das igrejas. Na quadra da escola de samba Beija-Flor de Nilópolis, o padroeiro da agremiação é saudado com a alvorada, às 5h, que terá o toque de clarins de soldados do Corpo do Bombeiros. Já no fim do dia, às 18h, uma missa será celebrada para louvar o santo, que é homenageado com um altar no estacionamento da quadra.

O santo, que no sincretismo religioso é associado a Ogum, orixá deus da guerra, dos metais, do ferro, da agricultura e da tecnologia, é patrono da maioria das agremiações do carnaval brasileiro.






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