Tiganá Santana reafirma origens e crenças em novo álbum 'Tempo & Magma' - Por Virgínia Andrade


Tiganá Santana é um artista atento às questões fundamentais da vida, consciente de si, do que faz e do que o cerca.

Filho do Terreiro Tumbenci de Mãe Zulmira e filósofo graduado pela Universidade Federal da Bahia, foi o primeiro compositor brasileiro a gravar em línguas africanas, interesse manifestado ainda na infância.

Nesta quinta-feira (21/05), o cantor baiano volta à sua terra natal para o lançamento do seu terceiro álbum, "Tempo & Magma", na sala principal do Teatro Castro Alves, às 21h. 

Acompanhado pela percussão de Sebastian Notini e contrabaixo de Ldson Galter, o músico também terá no palco a presença especial do grupo senegalês Sobo Bade Band, formado por músicos africanos, oriundos do Senegal, Guiné e Mali, que tocam instrumentos tradicionais da África Ocidental, alguns já quase em extinção.

No repertório, Tiganá revisita canções dos seus dois álbuns anteriores, "Maçalê", de 2010, e "The Invention of Color”, de 2013, além do conjunto de inéditas presentes no novo projeto. Gravado em Dacar, no Senegal, "Tempo & Magma" é um álbum autoral e duplo, com 14 faixas gravadas em português, inglês e quatro outros idiomas africanos: kikongo, kibundo, wolof e mandinka.

Dividido em "Anterior" e "Interior", o disco marca a profunda imersão do músico nas suas origens. Em conversa com o Bahia Notícias, Tiganá falou sobre o processo de construção deste novo trabalho, sua trajetória e religiosidade, além da ocupação "Sonho Meu" em homenagem à Dona Ivone Lara, que está em cartaz em São Paulo e da qual é curador.

“Tempo & Magma” será lançado nesta quinta-feira em Salvador. Como foi o processo de produção desse álbum? No que ele se aproxima e se diferencia dos seus dois trabalhos anteriores?

Primeiro, cada álbum foi gravado em um lugar. O primeiro gravei no Brasil, o segundo na Suécia, e o terceiro no Senegal. Isso já diz que a paleta de sonoridades e vivências se fazem diferentes nesses espaços e dimensões culturais também diferentes. Claro, há sempre o encontro daquilo que é interior, do que a gente carrega como referência e proposta de criação, e dos encontros que existem. Portanto, cada lugar foi um tipo de encontro e diálogo. Para gravar "Tempo & Magma", eu passei mais de quatro meses no Senegal. É um disco que tem a presença, além do meu violão e da minha voz, de instrumentos tradicionais da África e de instrumentistas do Senegal, Guiné-Conacri e Mali, dialogando com as minhas composições e alguns outros temas que eu gravei, mas não compus. É um disco que tem outros desenhos e desdobramentos, fruto de outras experiências e de um mergulho em uma parte do Senegal, representando uma parte do continente africano, que está numa ideia de origem que já nem se registra mais a uma cultura específica.

“Tempo & Magma” é um álbum duplo composto por “Interior” e “Anterior”. Por que fazer um duplo e o que muda em termos de realização?

A proposta de álbum duplo e que um disco seja “Interior” e o outro “Anterior”, sendo que este vem depois, traduz a ideia de que para se chegar à anterioridade é preciso mergulhar na interioridade. No primeiro disco, "Interior", há mais espaços, mais porosidade, é um tipo de celebração mais espaçada e silenciosa. O segundo remete à coletividade e serve mais diretamente à presença dos instrumentos dos músicos africanos. Gravar um disco duplo não é diferente, a diferença está no que se refere a pensar esse álbum e seu projeto gráfico. Mas, para mim, "Tempo & Magma" é um projeto que segue o fluxo de produção de álbum com um disco só, porque há uma unidade, um conceito, um desenho.

Além dos músicos africanos que participaram de “Tempo & Magma”, duas mulheres muito especiais também deixaram sua marca nesse projeto, a cantora Céu e Mãe Stella de Oxossi. Gostaria que você comentasse sobre essas participações. 


Muito me honra a participação de Mãe Stella por tudo o que ela é e representa. A participação dela é em uma faixa de um cântico tradicional de Guiné-Conacri e ela canta um trecho de uma música para Odé fazendo essa ponte entre matriz africana e diáspora, e as ressonâncias e reconstruções disso no chamado “Novo Mundo”. Céu eu conheço há alguns anos e ela abre a primeira faixa do disco, que é uma referência ao universo. Abrir com uma voz feminina remete à ideia daquilo que se fez gerar. Como no caso do universo eu tendo sempre a acreditar que ele criou a si mesmo, a voz feminina traz um fio de geração, de criação, de engenho.




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